...

sexta-feira, outubro 27, 2006

O papel da Doula

O parto há alguns anos atrás era considerado como um acontecimento de mulheres e para mulheres. As mulheres tinham os seus filhos em casa, rodeadas das mães e/ou irmãs e outras mulheres que lhes prestavam o apoio emocional e físico, parteiras ou “curiosas” . Normalmente as “curiosas” eram mães de muitos filhos que apoiavam as parturientes a fazer nascer os seus bebés. Assim era no tempo de minha avó. Ela teve os filhos, todos em casa e todos foram amamentados até aos 2-3 anos. Nunca teve dúvidas se conseguiria ou não parir, se conseguiria ou não amamentar os seus filhos. Tinha um profundo conhecimento da sua sabedoria interior, conhecia a capacidade inata do seu corpo para a tarefa da maternidade. Entrou em trabalho de parto naturalmente, os trabalhos de parto e partos decorreram sempre sem pressas, sem adição de quaisquer agentes externos no seu corpo, tudo decorreu a seu tempo e ao sabor da vontade do corpo dela e do corpo dos seus bebés.

A transferência dos partos de casa para o hospital fez com que este cenário passasse a ser vivido apenas por uma pequena percentagem de mulheres. Para a grande maioria das mulheres o parto é visto como algo a suportar para “merecer” o prémio final que é ter um filho.

A sociedade moderna tratou de entranhar na mente da mulher que ela não é capaz de parir sozinha uma vez que o seu corpo não é perfeito e como tal deve submeter-se às rotinas hospitalares que, salvo raríssimas excepções, não trazem mais-valias para ela ou para o seu bebé, rotinas essas em que os profissionais de saúde acreditam profundamente para o parto ter um final feliz.

A sociedade tratou de afastar as mulheres da sua sabedoria interior. Os cenários de partos em intimidade e privacidade foram substituídos por salas estéreis e frias e por vozes de comando sobre o que a mulher deve ou não pode fazer durante o seu trabalho de parto e parto. O suporte emocional passou a ser quase inexistente com a transferência dos partos de casa para os hospitais.

Na década de 1970, John Kennell e Marshall Klauss realizaram um estudo em que provaram, através de seis experiências clínicas controladas, que a presença de uma pessoa de apoio ao parto, do sexo feminino, encurta o tempo do primeiro parto numa média de duas horas, diminui a hipótese de cesariana em 50 por cento, parto com fórceps em 40 por cento, diminui a necessidade de medicação para as dores e anestesia epidural em 60 por cento, ajuda o pai a participar com confiança e aumenta o sucesso na amamentação. [1] [3] [4]

Para designar as mulheres que sem aptidão profissional prestavam apoio no parto, no estudo efectuado por John Kennell e Marshall Klauss foi usado o termo doula.

A doula sobrepõe-se à frieza do ambiente hospitalar dando apoio emocional na gravidez, parto e pós-parto, escutando as dúvidas, anseios e medos da mulher e do seu companheiro durante o período maravilhoso que é a gestação, o parto e o pós-parto, não os deixando sem resposta, contribuindo para o reforço da confiança da grávida no seu próprio corpo, na sua capacidade inata de parir e amamentar o seu filho, tentando reaproximar a mulher da sua sabedoria interior.

Uma doula é alguém que, com ou sem experiência da maternidade, tem uma grande capacidade de amar o próximo (é principalmente de amor, segurança e confiança que a mulher que está para dar à luz precisa), está consciente da sua sabedoria interior, conhece o poder do corpo feminino, acredita na capacidade inata das mulheres parirem e tem vocação para apoiar outras mulheres nesta maravilhosa etapa que transformará para sempre as suas vidas.

A doula acima de tudo tem que saber escutar as necessidades da mulher grávida, procurando saber o que ela pretende com a sua gravidez e as suas expectativas em relação ao parto. Uma doula é uma amiga, alguém que independente das suas convicções presta apoio e aconselhamento sem nunca dizer não deves ou não podes mas apresentando informações de modo a apoiar nas opções que a grávida/casal queira tomar. A doula é alguém que sabe o que a mulher que está a parir quer ou precisa sem recurso a palavras. Ela tem um profundo conhecimento da mulher que acompanha, conhecimento este que vai adquirindo ao longo dos encontros que tem com ela e/ou com o seu companheiro durante a gravidez. A doula é uma mulher discreta no cenário do parto, é uma mulher que não interfere no processo de nascimento, não observa, está ali como uma mãe que presta apoio a um filho, está ali para satisfazer as necessidades básicas da mulher em trabalho de parto. A Doula não faz qualquer tipo de procedimento médico e portanto não substitui qualquer dos profissionais envolvidos na assistência ao parto.

A doula entra no espaço de uma parturiente, reage prontamente e está consciente das suas necessidades, disposição alterações e sentimentos calados. Não necessita de controlar nem abafar. Todas as grávidas deviam ter os benefícios de uma doula. A doula não prejudica o papel do pai do bebé. Realça-o e liberta-o para se dedicar à tarefa tão importante de amar a mãe. [3]

Tal como o Dr. John Kennel disse um dia, se um medicamento tivesse o mesmo efeito de uma doula seria contra a ética não o utilizar. [3]


[1] Apontamentos da Formação de Doulas
[2] Jones,R.(2004), Memórias do Homem de Vidro - Reminiscências de um Obstetra Humanista
[3] Northrup, C.(2000), Corpo de Mulher Sabedoria de Mulher
[4] Odent, M.(2005), A Cesariana, Operação de Salvamento ou Indústria do Nascimento?
[5] http://www.doulasdeportugal.org/
[6] http://www.doulas.com.br/
[7] http://www.dona.org/
[8] www.doulas.info/publi.php
[9] http://www.paramanadoula.com/doula.php




Gorecki
By Lamb
BestAudioCodes.com

10 comentários:

Docinho disse...

Na minha gravidez, ainda li uns artigos sobre as Doulas... interessante realmente!

Beijos esclarecidos

Ana Santos disse...

a minha mãe teve 7 filhos, todos em casa, chamava uma parteira. ela diz que nos tinha era numa cadeira e não deitada na cama.
não fomos amamentados porque ela não tinha leite.
o meu julio foi parto desenrolado naturalmente, só aos 8 dedos a dilatação parou é que levei oxcitina forte.
tenho amamentado o meu bébé e vou o fazer enquanto tiver leite. O Marco foi amamentado até os 19 meses, parei porque fiquei grávida do júlio e aconselharam-me a o fazer, porque poderia ter risco de abortar por amamentar. Também fui aconselhada por mais tarde não trazer problemas psicológicos para o marco ao ver o julio na maminha que para ele era dele.
beijinhos e vai em frente com o doulas, fazes bem em ajudar outras mulheres a darem vida nova a este mundo
ana e seus tesourinhos

sonho de bebé disse...

È um assunto interessantíssimo! Se no estrangeiro é uma prática quase corrente o apoio da doula, cá em Portugal estamos a dar os primeiros passos, mas o papel destas mulheres pelo que li nalguns artigos e no teu texto é mesmo importantíssimo. Às vezes penso que se tivesse tido o apoio de uma doula no parto do David talvez não teria necessidade de ter feito a cesariana.
Beijinhos

Susy disse...

Antes de engravidar não fazia a minima ideia do que era uma doula! Durante a gravidez li muitos livros e revistas e deparei-me com esta realidade, e a verdade é que se um dia tiver a alegria de ser mãe novamente e porque apesar de a minha médica não aconselhar um dia tentar parto normal depois de uma cesariana, eu espero consegui-lo e quem sabe se não com a a ajuda de uma doula.
já tive oportunidade de te parabelizar pela tua decisão, mas faço.o de novo!! ADMIRO-TE!
Beijinhos

Unknown disse...

mamã: tenho alguns textos científicos e alguns sites fidedignos onde falam sobre partos vaginais após cesariana. É perfeitamente possível e muito seguro. Apenas não te podem induzir o parto nem devem tentar apressá-lo através da introdução de oxitocina artficial pois esta intervenção aumenta a probabilidade de risco de ruptura uterina. A ruptura uterina não é o útero que rasga, são pequenas fissuras que se podem abrir na cicatriz. Conheço algumas histórias felizes de segundos partos vaginais. Hoje não tenho muito tempo de colocar aqui em comentário, mas prometo que assim que tiver um tempito, escrevo um comentário no teu blog com links que poderás aceder para veres que é possível e seguro ter partos vaginais a seguir a cesarianas :)e bibliografia se quiseres ler.
Acima de tudo mamã temos de ter confiança em nós e assumir a responsabilidade pelo nosso parto porque ele é nosso e não do médico.
beijinho,
Cris

Susy disse...

Muito obrigada pela força Cris!!!
fico á espera de toda essa informação! :)
É algo que quero muito, bem sei que tenho que esperar algum tempo para engravidar, mas este tb não é o melhor momento, o mauro é muito pequenino e a establidade financeira tb não é muita, mas é um sonho, muito grande que quero concretizar e sei que vou conseguir!
Obrigada

Grilinha disse...

Não só acho interessante, como importante. Conheço o papel da Doula, nunca tive uma, mas é fantástico toda a ideia em si. Parabéns para ti. Certamente te enriquecerá muito como ser humano. Um beijo

Cláudia disse...

Beiinhos e boa semana

Gio disse...

Até ler aqui no teu cantinho, eu não sabia o que eram as doulas, ou melhor, eu sabia que existiam mulheres que faziam este trabalho naõ sabia era o nome que lhes era atribuido.
Acho linda a tua vocação, e digna de ser louvada, so espero que consigas atingir os teus objectivos.
Beijinhos

Chuva disse...

5 estrelas, como tu!
PARABÉNS e continua assim!
Beijo enorme.